Estado vs Estado – a birra de VGM

Há alturas em que as birras são aceitáveis.
As crianças fazem birras, todos o sabem. E, embora pessoalmente sempre tenha sentido uma certa dificuldade em lidar com as mesmas, a verdade é que têm um certo direito a elas.
Fazem birra porque lhes é necessária uma certa atenção por parte dos pais; fazem birra porque se sentem injustiçadas; fazem birra porque querem ver os seus caprichos satisfeitos… Enfim, fazem birras e (com conta, peso e medida) têm direito a isso. Afinal de contas, são crianças!

Há alturas em que as birras não são aceitáveis.
Os adultos também fazem birras. E fazem beicinho. E amuam.
Nos adultos temos mais dificuldade em aceitar as birras. Esperamos deles uma forma de racionalidade diferente… Esperamos deles mais… Racionalidade!


Vem tudo isto a propósito de uma notícia de acordo com a qual Vasco Graça Moura terá dado ordem aos serviços do Centro Cultural de Belém (CCB) para não aplicarem o Acordo Ortográfico (de 1990 – continua a fazer-me uma certa confusão esta insistência em designar o Acordo como novo Acordo Ortográfico, quando foi assinado há mais de 21 anos).

Claro que podemos pensar: 
“Ah, e tal, ele sempre foi avesso ao Acordo Ortográfico” (de 1990, insisto)…

Mas a grande questão aqui nem sequer é se concordamos ou não com o famigerado (des)Acordo.  A grande questão aqui prende-se com a (i)legalidade ou (in)justiça desta birra de Vasco Graça Moura.
Pela minha parte, não me passaria pela cabeça aceitar trabalhar para uma qualquer entidade e depois recusar-me a cumprir as diretrizes adotadas antes da minha entrada. Se não concordo com o que fazem e me vou recusar a cumprir, não é honesto que aceite o emprego...
E essa deveria ter sido a postura de Vasco Graça Moura. Outra coisa não seria espectável. Se aceito vincular-me a determinada entidade, então assumo que não estou em choque com a política adotada por essa entidade.

Dirão alguns:
“Ah e tal que ele é que é o presidente, por isso toma as medidas que quiser.”

Não é bem assim. A entidade que aqui está em causa não é o CCB, mas o Estado português (pois foi pelo governo português que Vasco Graça Moura foi nomeado), e parece no mínimo estranho que uns organismos do Estado tenham sido induzidos a redigir, a partir deste ano (21 anos depois da assinatura do acordo, não me canso de referir) ao abrigo do Acordo Ortográfico (de 1990, volto a insistir), e outras não, por birra de alguém que aceitou o cargo depois de saber que essa regra estava imposta.

Fica no ar uma sensação de luta de Estado vs Estado...