mood


"See me falling, down and lonely
Are the angels on their way, I'm in the dirt
Hear me screaming, see me bleeding
'Cause the days are no more the same"

embebedai-vos

"Deve estar-se sempre bêbado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embebedar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embebedai-vos.
E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuída ou desaparecida a bebedeira, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: «São horas de vos embebedardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embebedai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.»"
Baudelaire, Petits Poèmes en Prose, 1869

Estado vs Estado – a birra de VGM

Há alturas em que as birras são aceitáveis.
As crianças fazem birras, todos o sabem. E, embora pessoalmente sempre tenha sentido uma certa dificuldade em lidar com as mesmas, a verdade é que têm um certo direito a elas.
Fazem birra porque lhes é necessária uma certa atenção por parte dos pais; fazem birra porque se sentem injustiçadas; fazem birra porque querem ver os seus caprichos satisfeitos… Enfim, fazem birras e (com conta, peso e medida) têm direito a isso. Afinal de contas, são crianças!

Há alturas em que as birras não são aceitáveis.
Os adultos também fazem birras. E fazem beicinho. E amuam.
Nos adultos temos mais dificuldade em aceitar as birras. Esperamos deles uma forma de racionalidade diferente… Esperamos deles mais… Racionalidade!


Vem tudo isto a propósito de uma notícia de acordo com a qual Vasco Graça Moura terá dado ordem aos serviços do Centro Cultural de Belém (CCB) para não aplicarem o Acordo Ortográfico (de 1990 – continua a fazer-me uma certa confusão esta insistência em designar o Acordo como novo Acordo Ortográfico, quando foi assinado há mais de 21 anos).

Claro que podemos pensar: 
“Ah, e tal, ele sempre foi avesso ao Acordo Ortográfico” (de 1990, insisto)…

Mas a grande questão aqui nem sequer é se concordamos ou não com o famigerado (des)Acordo.  A grande questão aqui prende-se com a (i)legalidade ou (in)justiça desta birra de Vasco Graça Moura.
Pela minha parte, não me passaria pela cabeça aceitar trabalhar para uma qualquer entidade e depois recusar-me a cumprir as diretrizes adotadas antes da minha entrada. Se não concordo com o que fazem e me vou recusar a cumprir, não é honesto que aceite o emprego...
E essa deveria ter sido a postura de Vasco Graça Moura. Outra coisa não seria espectável. Se aceito vincular-me a determinada entidade, então assumo que não estou em choque com a política adotada por essa entidade.

Dirão alguns:
“Ah e tal que ele é que é o presidente, por isso toma as medidas que quiser.”

Não é bem assim. A entidade que aqui está em causa não é o CCB, mas o Estado português (pois foi pelo governo português que Vasco Graça Moura foi nomeado), e parece no mínimo estranho que uns organismos do Estado tenham sido induzidos a redigir, a partir deste ano (21 anos depois da assinatura do acordo, não me canso de referir) ao abrigo do Acordo Ortográfico (de 1990, volto a insistir), e outras não, por birra de alguém que aceitou o cargo depois de saber que essa regra estava imposta.

Fica no ar uma sensação de luta de Estado vs Estado...