exame com capacidade-dignificante

Sou professor de Filosofia e de Psicologia. Ao longo da minha vida académica realizei cerca de 404 exames, testes ou trabalhos. Depois do curso de Filosofia, realizei um estágio profissional no qual muitas das aulas que lecionei foram assistidas, os materiais que desenvolvi foram avaliados e ao mesmo tempo frequentava cadeiras como Didática da Filosofia, Teoria e Prática da Educação ou Psicologia do Processo Educativo, entre outras (também avaliadas por meio de exames e apresentações de trabalhos).

Enquanto professor, tive várias vezes colegas a assistir às minhas aulas (hábito que considero saudável), aos quais sempre pedi apreciações críticas, pois entendo que ajudam a que me torne cada vez melhor professor.

Feliz ou infelizmente, após cerca de 404 exames realizados, ainda há muita coisa que não compreendo. Uma delas é a lógica de Nuno Crato! Aparentemente, de acordo com este ministro, a realização de um exame vem “dignificar os professores” e contribuir para “selecionar” os melhores.
Sinceramente faz-me muita confusão este tipo de raciocínio de acordo com o qual a realização de exames é a panaceia para os problemas do sistema educativo português. Faz-me muita confusão que me digam que, depois de ter respondido a cerca de 404 exames, seja este o que vai dignificar-me enquanto docente (parece-me mais que, se este é que dignifica, então os outros devem ter padecido de um qualquer problema, que impediu que tivessem capacidade-dignificante – mas se assim é, deveriam ter-me dispensado de os realizar!).

E depois olha-se para o exame realizado em dezembro passado… 
Olha-se para o exame e percebe-se que, nem em termos formais, nem em termos de conteúdo o exame reúne condições que lhe permitam fazer uma avaliação adequada dos docentes. MAS aparentemente tem maior capacidade-dignificante que o estágio e todos os outros exames que até agora realizei… 

Pela lógica, isto deve significar que o exame foi elaborado por deuses-da-pedagogia de modo a avaliar até o que não pode ser avaliado por um exame… Mas não foi! Do exame de dezembro, por exemplo, constavam questões sobre o refeitório e o transporte de alunos. Ora obviamente para o ministro Nuno é isto que define um bom professor: o seu conhecimento relativo aos refeitórios e ao transporte dos alunos!

Será que se impuséssemos um exame de competências ministeriais as coisas estariam melhor?

Post Scriptum: não sou avesso à avaliação docente. Sou avesso a esta avaliação docente e à ideia de que os exames são a panaceia para o estado da educação em Portugal!

Post Scriptum 2: sim, pertenço ao grupo de docentes dispensados de fazer a prova, o que obviamente não belisca a indignação que sinto perante a alarvidade!

Sem comentários: