bela vista

No ano em que dei aulas em Setúbal (2000/2001), estive no bairro da Bela Vista duas vezes. Na primeira vez andávamos perdidos (eu e o meu colega, um grande amigo…) e à procura daquela que seria a nossa casa para esse ano. Perdemo-nos e acabámos num bairro onde decidimos parar para pedir informações. Quando olhamos para o carro estacionado ao nosso lado, reparámos que estava carregado de pequenos buracos redondos. Balas! A seguir percebemos que à nossa volta havia uma série de olhares que nos fixavam sem medo. Saímos dali assim que possível, porque não nos sentíamos bem.

Ouvi muitas vezes falar no bairro da Bela Vista, do tráfico de drogas que lá havia, da quantidade de armas que por lá andavam, de como nós, novos na zona, não queríamos ter problemas com a malta lá do bairro…

Na semana que passou voltei a ouvir falar do bairro da Bela Vista e não foi pelas melhores razões, outra vez! Ao que parece a polícia (ou a bófia, ou como for) alvejou uma pobre criança que disparava contra eles… Depois começou a violência, contra a polícia… Como se estivéssemos de regresso àquele velho oeste do ‘olho por olho’…!

A seguir começaram a levantar-se as vozes de sempre: “ah, e tal que a exclusão social isto e aquilo”; “ah, que este tipo de problemas é de muito difícil solução”. No fim veio o argumento de que mais gostei, porque parvo: “ah, que a polícia não pode agir desta forma e disparar contra as crianças…”

Como??

“Ah, que a polícia não pode agir desta forma e disparar contra as crianças…”

Como??

Depois desta alarvidade mágica é inevitável imaginarmos a solução alternativa (apesar de, em termos lógicos, correr o risco de criar um raciocínio falacioso): ora se a polícia não pode responder quando lhes disparam, resta-lhes a hipótese de levar tiros destas…, “crianças” de arma em punho! Mas por outro lado, se assim é, para que raio serve a polícia? Para o tiro ao alvo desta malta?

Há já uns tempos que penso que as políticas sociais que temos vindo a seguir estão desajustadas, mas é mais do que certo que não é a incendiar os carros dos outros, nem a apedrejar os bombeiros, que trazemos justiça social ao país!

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