falatório(s)

Parece que a malta se indignou com uma tal "pipoca mais doce" que comentava os óscares (essa cerimónia tão importante), ou melhor, a roupa que as pessoas levavam vestida para os óscares (uma coisa ainda mais importante).

Parece que a malta se indignou porque a "pipoca" (com um nome destes...) gozou com a roupa de uma moça portuguesa que sofre de uma doença grave e foi assistir à cerimónia.

Tenho alguma dificuldade em perceber!

É que tenho dificuldade em perceber onde raios vai a "pipoca" buscar leitores. Eu, inocente que sou, não sabia da existência da moça até ontem... E agora sei porque achei estranha a notícia do Inimigo Público e fui ver de onde eles tinham tirado aquilo.

Aqui vai um pouco de falatório sobre a "pipoca mais doce", os seus leitores e os indignados.
A "pipoca mais doce" é uma rapariga que vive no (e do) frenesim da novidade. O blogue da moça vive na onda do novo pelo novo e da distração em relação ao que nos deveria aproximar de nós próprios.

Trata-se de falatório (no sentido heideggeriano)! O falatório é aquele discurso que é feito no geral e representa uma distração em relação ao fundamental: a reflexão sobre a verdade do ser.
Sim, isto dito assim parece um bocado abstrato, mas a ideia é mais ou menos esta: não somos o que usamos, não somos os objetos que possuimos (ou que nos possuem), não somos a imagem física do nosso corpinho... Nenhuma destas coisas é verdadeiramente parte daquilo que é essencial no ser (pre-sença - ou dasein).

Eu quero lá saber se a sra-não-sei-quantas levava um vestido dior ou zara ou o raio que a parta... Eu nem sei quem é a sra-não sei-quantas!...

Perdemos tanto tempo a olhar para estas coisas que às vezes parece que nos esquecemos de existir!

"A crescente ausência-de-pensamentos assenta num processo que corrói o âmago mais profundo do ser humano atual: o homem atual «está em fuga de pensamento». Esta fuga-aos-pensamentos é a razão da ausência-de-pensamentos"
Heidegger, M. Serenidade

(e pronto, já terminei o meu falatório sobre o falatório)

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