(2) primeira vez...

Quando somos novatos fazemos as coisas ao acaso… sem muito método; respondemos ao impulso… Depois vamos aprendendo com a asneirada que fazemos e melhoramos (para todos os outros pioramos)…

A minha primeira vez foi uma asneirada!

Na minha primeira vez respondi a um impulso.

Na minha primeira vez não pensei bem, nas coisas… e pensei pouco durante…

Na minha primeira vez usei uma faca de cozinha! Nunca se deve usar uma faca de cozinha.

A oportunidade não surgiu ao acaso. Dei-me ao trabalho de ver por onde passava; a que horas; com quem; qual era o melhor local… Fiz o trabalho de casa!

Sabia que ia tremer – a adrenalina faz isso – por isso ataquei pelas costas. Se queremos que a coisa corra bem procuramos enfiar a faca na zona das cartilagens costais ou entre a oitava e a décima costelas de modo a ter mais facilidade em perfurar o pulmão. Assim ela nunca vai conseguir gritar nem reagir com força suficiente para representar qualquer ameaça à realização do trabalho – nem que seja um bisonte!

Atacamos pelas costas à procura do pulmão e… nunca usamos uma faca de cozinha! O ataque tem de ser forte. Um só golpe, mas forte, porque o primeiro golpe vale a diferença entre ela conseguir gritar ou, pior ainda, retaliar, e acabamos todos sujos e com o risco de deixar o trabalho a meio.

Para o primeiro golpe, puxar bem a mão atrás e atirá-la com o máximo de força para a zona das cartilagens costais. O ataque tem mesmo de ser forte, para não arriscar ficar com a faca encalhada no osso… mas nunca deve ser feito com uma faca de cozinha.

A faca a usar deve ser uma Tramontina Comander II (ou algo do género, como a do Rambo) – parece ser um lugar-comum, mas faz toda a diferença – e deve ter aquela protecção entre a lâmina e a pega. Essa protecção representa a diferença entre jogar pelo seguro e ser um amador da treta. Essa protecção representa a diferença entre um trabalho bem feito e o risco de apanhar um osso e deixar a faca escorregar. No meu caso acabei com metade da lâmina no pulmão e a outra metade a servir de escorrega para a minha mão.

Um corte que vai quase até ao osso explica-se no emprego dizendo que foi feito com a faca do pão (as pessoas raramente querem ouvir pormenores).

Foi a minha primeira vez.

Nunca mais usei uma faca de cozinha.

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